quarta-feira, 31 de agosto de 2011
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
domingo, 28 de agosto de 2011
Homenagem a Agustina Bessa Luís Part 5
A Anto, Associação os Amigos de António Nobre, Homenageou Agustina Bessa Luís, escritora nascida em Vila Meã
sábado, 27 de agosto de 2011
quinta-feira, 25 de agosto de 2011
United Nude / Lookbook / Spring-Summer 2011 from Red Square Visual Arts on Vimeo.
http://redsquarephoto.posterous.com/
http://www.thestylishnomad.com/
http://www.bandagedear.com/
BandagedEar
Provocando
Teasing from Nomes Design on Vimeo.
«On n'aime bien que les femmes qu'on n'a pas eues»
Emile Zola
via
http://nomesdesign.tumblr.com/
quarta-feira, 24 de agosto de 2011
segunda-feira, 22 de agosto de 2011
Chillwave/glo-Fi/Hypnagogic pop
https://www.facebook.com/Chillwave.GloFi.HypnagogicPop#!/Chillwave.GloFi.HypnagogicPop?sk=wall
The incredible world of Diminished Reality
http://www.youtube.com/watch?v=FgTq-AgYlTE&feature=player_embedded
CHEGADA
Era tarde da noite quando K. chegou. A aldeia jazia na neveprofunda. Da encosta não se via nada. névoa e escuridão acercavam, nem mesmo o clarão mais fraco indicava o grandecastelo. K. permaneceu longo tempo sobre a ponte de madeira quelevava da estrada à aldeia e ergueu o olhar para o aparente vazio. Depois caminhou à procura de um lugar para passar a noite;no albergue as pessoas ainda estavam acordadas, o dono nãotinha quarto para alugar mas, extremamente surpreso eperturbado com o hóspede retardatário, propôs deixá-lo dormirsobre um saco de palha na sala e K. concordou. Algunscamponeses ainda estavam sentados tomando cerveja mas ele nãoqueria conversar com ninguém, pegou pessoalmente o saco de pa-lha no sótão e deitou-se perto da estufa. Estava quente ali, oscamponeses quietos, ele os examinou ainda um pouco com osolhos cansados e em seguida adormeceu. Mas pouco tempo depoisjá foi despertado. Um jovem, em trajes de cidade, rosto de ator,olhos estreitos, sobrancelhas fortes, encontrava-se ao seu lado como dono do albergue. Os camponeses também ainda estavam lá,alguns tinham voltado suas cadeiras para ver e ouvir melhor. Ojovem desculpou-se muito cortesmente por ter acordado K.,apresentou-se como filho do castelão e depois disse: Esta aldeia é propriedade do castelo, quem fica ou pernoitaaqui de certa forma fica ou pernoita no castelo. Ninguém podefazer isso sem permissão do conde. Mas o senhor não tem essapermissão, ou pelo menos não a apresentou. K. tinha erguido a metade do corpo, alisado os cabelos paratrás com os dedos; olhou os dois de baixo para cima e disse: Em que aldeia eu me perdi? Então existe um castelo aqui? Certamente disse o jovem devagar, enquanto aqui e alialguém balançava a cabeça em relação a K. O castelo do senhorconde Westwest.
domingo, 21 de agosto de 2011
sábado, 20 de agosto de 2011
A Christmas Without Snow (1980) - Full Movie
A divorced woman moves to a new city with her child, trying to build her life again. She joins the choir of a local church but has some personality conflicts with the choirmaster, a curmudgeonly old gentleman who will accept nothing but perfection from his group. As Christmas approaches the choir practices for the big show and the director pushes them all to their emotional limits
http://www.youtube.com/watch?v=7cGnoRhoYAw&feature=related
sexta-feira, 19 de agosto de 2011
terça-feira, 16 de agosto de 2011
Mahler: Symphony No. 2 (Resurrection)
From the Mondavi Center on the UC Davis campus, the UC Davis Symphony Orchestra, University Chorus, and Alumni Chorus present Mahler: Symphony No. 2 ("Resurrection"), with Arianna Zukerman, soprano, and Zoila Muñoz, contralto. D. Kern Holoman, conducting. Series: Mondavi Center Presents [9/2005] [Arts and Music] [Show ID: 9439]
segunda-feira, 15 de agosto de 2011
Roy Orbinson Danny Boy with Lyrics
The valley is hushed
The flowers are all dying
The meadow is white with the winter snow
Lord as I stand at the place where daddies lying
I say a silent prayer and somehow I know
He hears me there, though soft I tread above him
So now he sleeps in peace
His Danny boy's come home
................. the pipes the pipe are calling
From glen to glen and down the moutainside
The summers gone and all the leaves are falling
Its you, its you must go and I must bide
O come ye back when the sun shines on the meadow
Or when the valley's hushed and white with snow
For I'll be here in sunshine or in shadow
Oh Danny boy, Oh Danny boy I love you so
I close my eyes and still I can see
Him standing there on the hill
Tears filled his eyes as he waved goodbye to me
I can't forget, I guess I never will
He said, the valley is hushed
The flowers are all dying
The meadow is white with the winter snow
Come find the place
Where you know that I'll be lying
Say a silent prayer
So I'll know
domingo, 14 de agosto de 2011
sábado, 13 de agosto de 2011
Paris Fashions, 1912 1925
Paris Fashions from 1912-1925.
Music, "J'ai deux amours" sung by Josephine Baker.
The images are hand-painted prints of designer clothes called "Pochoirs." They were original hand-colored prints that were done for fashion magazines to showcase designer's clothes in Paris. A bit like "Vogue" today. The works are charming and wonderful and evoke a simpler time. The clothes are really ravishing. The designers of the time, like Poiret, and later Chanel, were revolutionizing the way women's clothes were designed and worn; from the corsets of the 19th century, to loose-fitting clothes like the clothes women are now so used to wearing. These illustrations are really gorgeous. The music is Josephine Baker singing her hit song "J'ai deux amours" (I have two loves - my country and "Paree!")
Women's fashions year by year: 1795 to 1948
153 yrs of women's fashion in 8 mins . Up to 1893 it's sound stuff (the original source for pre-1893 seems to have shown the spring fashion followed by the autumn one but I'm afraid I haven't reflected this in the order they appear in the frame for each year, not having noticed until it was too late, while pics chosen to fill gaps in the original for 1801, 1878, 1879 and 1886 were picked for that year from the web, at random) - after 1893 seasons are ignored and it's the work of someone who's quite fussy about dating but couldn't tell a twill from a taffeta. Acknowledgement of all image sources given in the end credits (except for half a dozen or so mislaid ones) - both thanks and apologies to all website owners concerned.
sexta-feira, 12 de agosto de 2011
Autism Cymru conference 2011
Temple talks about her life and Autism, also how to improve the life abs trying new things with Autistic children. A very clever lady!!
http://paisetecnicosumolharsobreoautismo.blogspot.com/
quinta-feira, 11 de agosto de 2011
quarta-feira, 10 de agosto de 2011
Bodhisattva in metro HQ
Será que o riso é contagiante? Será que o riso transforma o tédio, a rotina e o incómodo? Será que o riso une?
terça-feira, 9 de agosto de 2011
segunda-feira, 8 de agosto de 2011
Millions of songbirds in danger
http://www.youtube.com/watch?v=ZCNHcIx4gtU&feature=player_embedded#at=48
https://secure.nrdconline.org/site/Advocacy?cmd=display&page=UserAction&id=2378&s_src=flash
domingo, 7 de agosto de 2011
ME LIBERO
http://www.luxvitae.com/201108021151/reflexiones/otras-tematicas-reflexiones/ejercicio-de-liberacion.html
sábado, 6 de agosto de 2011
sexta-feira, 5 de agosto de 2011
"Alguns livros funcionam como uma chave para as salas desconhecidas do nosso próprio castelo"
O agrimensor K. chega a uma aldeia coberta de neve e procura abrigo num albergue perto da ponte. O ambiente sombrio e a recepção ambígua dão o tom do que será o romance. No dia seguinte o herói vê, no pico da colina gelada, o castelo: como um aviso sinistro, bandos de gralhas circulam em torno da torre. O personagem, K., nunca conseguirá chegar até o alto, nem os donos do poder permitirão que o faça. Em vez disso, o suposto agrimensor mesmo a esse respeito não há certeza busca reivindicar seus direitos a um verdadeiro cortejo de burocratas maliciosos, que o atiram de um lado para outro com argumentosque desenham o labirinto intransponível em que se entrincheira adominação. O castelo Fausto do século XX consolidado como um dos pontos mais altos da ficção universal mostra a extensão completa do termokafkiano.
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Já se disse que os homens suportam qualquer sofrimento,desde que saibam que terá fim; o efeito da tortura parece tantomaior, mais eficaz, quanto mais se convence o torturado de queaquele momento de dor não é apenas o presente, mas todo o futuro. A literatura de Franz Kafka pode ser lida também assim:como representação desse estado mental em que um sofrimentodesagrega a noção de tempo e põe em seu lugar uma duração ade um presente contínuo gerado pela certeza de que a repetiçãoindesejada instalou-se como lei impossível de burlar. Na acepçãomais corrente,kafkiano,para nós, tornou-se o enredo (literário ounão) que não acaba de oprimir; uma situação kafkiana é o que é,para sempre, e nenhuma pergunta sobre sua natureza pareceatingi-la no centro. Kafka morreu em 1924, um mês antes de completar 41 anos.Escreveu Ocastelo em 1922, em cerca de seis meses. Não se saber por quê, suspendeu a escrita no meio de uma frase: "Ela estendeu a K. a mão trémula e o mandou sentar-se ao seu lado; falava com esforço, era preciso se esforçar para entendê-la, mas o que ela disse". Não há como não ver essa incompletude gramatical como imagem da própria literatura kafkiana. Lendo Kafka à luz de Kafka,parece desnecessário ou impertinente devanear sobre a seqüência, pois ela está inscrita em todas as páginas anteriores: K., o suposto agrimensor, não alcança o castelo. Não se desenreda e é esse oseu presente contínuo.
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No posfácio, Modesto Carone cita uma anotação de Kafka:"Alguns livros funcionam como uma chave para as salas desconhecidas do nosso próprio castelo". A literatura kafkiana é mais dura. Povoada de seres emparedados, parece afirmar que as salas desconhecidas assim permanecerão.
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Já se disse que os homens suportam qualquer sofrimento,desde que saibam que terá fim; o efeito da tortura parece tantomaior, mais eficaz, quanto mais se convence o torturado de queaquele momento de dor não é apenas o presente, mas todo o futuro. A literatura de Franz Kafka pode ser lida também assim:como representação desse estado mental em que um sofrimentodesagrega a noção de tempo e põe em seu lugar uma duração ade um presente contínuo gerado pela certeza de que a repetiçãoindesejada instalou-se como lei impossível de burlar. Na acepçãomais corrente,kafkiano,para nós, tornou-se o enredo (literário ounão) que não acaba de oprimir; uma situação kafkiana é o que é,para sempre, e nenhuma pergunta sobre sua natureza pareceatingi-la no centro. Kafka morreu em 1924, um mês antes de completar 41 anos.Escreveu Ocastelo em 1922, em cerca de seis meses. Não se saber por quê, suspendeu a escrita no meio de uma frase: "Ela estendeu a K. a mão trémula e o mandou sentar-se ao seu lado; falava com esforço, era preciso se esforçar para entendê-la, mas o que ela disse". Não há como não ver essa incompletude gramatical como imagem da própria literatura kafkiana. Lendo Kafka à luz de Kafka,parece desnecessário ou impertinente devanear sobre a seqüência, pois ela está inscrita em todas as páginas anteriores: K., o suposto agrimensor, não alcança o castelo. Não se desenreda e é esse oseu presente contínuo.
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No posfácio, Modesto Carone cita uma anotação de Kafka:"Alguns livros funcionam como uma chave para as salas desconhecidas do nosso próprio castelo". A literatura kafkiana é mais dura. Povoada de seres emparedados, parece afirmar que as salas desconhecidas assim permanecerão.
Minha vida é uma vida feita de todas as vidas
"Estas memórias ou lembranças são intermitentes e, por momentos, me escapam porque a vida é exatamente assim. A intermitência do sonho nos permite suportar osdias de trabalho. Muitas de minhas lembranças se toldaram ao evocá-las, viraram pócomo um cristal irremediavelmente ferido.As memórias do memorialista não são as memórias do poeta. Aquele viveutalvez menos, porém fotografou muito mais e nos diverte com a perfeição dos detalhes;este nos entrega uma galeria de fantasmas sacudidos pelo fogo e a sombra de suaépoca.Talvez não vivi em mim mesmo, talvez vivi a vida dos outros.Do que deixei escrito nestas páginas se desprenderão sempre - como nosarvoredos de outono e como no tempo das vinhas – as folhas amarelas que vão morrere as uvas que reviverão no vinho sagrado.Minha vida é uma vida feita de todas as vidas: as vidas do poeta."
Pablo Neruda, «Confesso que Vivi»
Pablo Neruda, «Confesso que Vivi»
quinta-feira, 4 de agosto de 2011
Luis Miguel - Si tu te atreves
And what if I never kiss your lips again
Or feel the touch of your sweet embrace
How would I ever go on
Without you there's no place to belong
Well someday love is gonna lead you back to me
But 'til it does I'll have an empty heart
So I'll just have to believe
Somewhere out there you thinking of me
Until the day I'll let you go
Until we say our next hello
It's not goodbye
'Til I see you again
I'll be right here rememberin' when
And if time is on our side
There will be no tears to cry
On down the road
There is one thing I can't deny
It's not goodbye
You'd think I'd be strong enough to make it through
And rise above when the rain falls down
But it's so hard to be strong
When you've been missin' somebody so long
It's just a matter of time I'm sure
But time takes time and I can't hold on
So won't you try as hard as you can
To put my broken heart together again
Until the day I'll let you go
Until we say our next hello
It's not goodbye
'Til I see you again
I'll be right here rememberin' when
And if time is on our side
There will be no tears to cry
On down the road
There is one thing I can't deny
It's not goodbye
quarta-feira, 3 de agosto de 2011
A Sereia
A sereia e o pescador
Balata
C'est la sirene,
Qui va chanter
La cantilene,
Qui fait aimer.
Sereia
Viver aqui eu não posso
Nem no vale, nem na serra;
Eu não sou filha da terra,
Eu sou sereia do mar.
Correi, ondas, brandamente,
Correi, vinde me buscar.
Nasci no seio das vagas,
Numa gruta de cristal;
Em colunas de coral
O meu berço se embalou.
Ondas, levai-me convosco,
Que eu desta terra não sou.
O amor criou-me entre pérolas
Sobre fúlgidas areias,
Mago canto de sereias
Meus sonos acalentou.
Ondas, levai-me convosco,
Que eu também sereia sou.
Eu não sou filha da terra,
Vivo triste nestas plagas;
Embalada sobre as vagas,
Só no mar quero viver.
Correi, vinde, ó minhas ondas.
A meus pés vinde gemer,
No regaço cristalino
Brandamente me tomai;
Aos plácios de meu pai
Vinde, vinde me levar.
Correi, ondas, pressurosas,
Levai a filha do mar.
E se alguém na terra ingrata
Sentindo loucos amores,
Meus encantos e favores
Insensato desejar,
Em torno a mim, bravas ondas,
Vinde em fúria rebentar.
Em solitário rochedo,
Batido pelas tormentas,
Ide, ó ondas turbulentas,
Ide longe me ocultar.
Rugindo ali noite e dia,
Guardai a filha do mar.
Sentada ao pé de um rochedo,
Com os pés na branca areia,
Assim cantava a sereia
A linda filha do mar.
E a onda mansa, gemendo,
Os pés lhe vinha beijar.
Pescador, que além vogava,
No seu batel escondido,
Absorto prestava ouvido
A tão saudoso cantar,
E a vela e o remo esquecia
Ouvindo a filha do mar.
III
PESCADOR
Não mais lamentes
Em tom magoado
Teu triste fado,
Filha do mar.
Vem a meu barco,
Nos braços meus
Aos lares teus
Te irei levar.
De novo os belos
Paços reais,
Entre os cristais
Irás saudar,
E sobre as finas,
Fulvas areias,
Entre as sereias
Irás cantar.
Embora sejam
Teus ermos lares
Entre os algares
Do fundo mar.
Sejam embora
Negro alcantil,
Que monstros mil
'Stão a guardar,
Onde as tormentas
Sempre batendo,
Com ronco horrendo
Vão rebentar.
Irei, se queres,
Agora mesmo,
Sem medo, a esmo
Te acompanhar.
Meu barco é leve,
Meu braço é forte,
E a própria morte
Sabe afrontar.
Só peço em paga
Da doce lida
Passar a vida
A te adorar,
E a teus joelhos
Sempre prostrado
Teu rosto amado
A contemplar.
Oh! vem comigo,
Vem pressurosa,
Vem, ó formosa
Filha do mar.
IV
Calou-se o barqueiro amante;
Mas depois ouviu, tremendo,
Um canto, que mais ao longe,
Mais ao longe foi morrendo.
A cantar e a fugir
A sereia ia dizendo:
SEREIA
Eu sou pérola das vagas,
Que nao sei, nem quero amar;
O meu peito é como a rocha,
Onde em vão esbarra o mar.
Mancebo, vai noutra parte
Teus amores suspirar.
Do que existe sobre a terra
Nada me pode agradar;
Só amo a Deus nas alturas,
E a liberdade no mar.
Mancebo, vai noutra parte
Teus amores suspirar.
V
Desta canção fugitiva
Os ecos ainda duravam,
E nas praias suspiravam
Entre os bramidos do mar;
E o pescador entre angústias
Sentia o peito estalar.
PESCADOR
Por que foges, branca fada
De formosura sem par?
Por que me escondes teu brilho,
Formosa estrela do mar?...
Ronca em torno a tempestade.
Meu barco vai soçobrar.
Só tu podes no meu peito
Uma esperança plantar;
E as tormentas, que me cercam,
Com tua luz aplacar.
Nestes medonhos abismos
Nao me deixes soçobrar.
Ferve o mar, o céu em chamas
Vem abismos aclarar;
Nestas águas desastrosas
Vai meu barco soçobrar.
Vem salvar-me por piedade,
Formosa estrela do mar.
VI
Longos dias se passaram;
Ninguém mais ouviu cantar
A linda filha das águas
Nem na praia, nem no mar.
E vivia o pescador
Triste e só a definhar.
Se ousava nas ermas praias
Seu queixoso canto alçar,
Só ouvia longe, longe
Uma voz a lhe bradar:
"Mancebo, vai noutra parte
Teus amores suspirar."
VII
Passaram mais dias, meses;
já cansado de pensar
O pescador sem
barco soltou ao mar.
Ei-lo sem norte e sem rumo
Nas ondas a resvalar.
Ei-lo que vai mar em fora.
Nas ondas do mar bravio
Seu amor louco e sombrio
Quer consigo sepultar.
Contra uma rocha empinada
Vai seu barco espedaçar.
Mas eis soa-lhe aos ouvidos
Voz celeste e maviosa,
Em toada lamentosa
Tristes coplas a cantar.
Aos acentos suspirosos
Cala a brisa, e geme o mar.
VIII
SEREIA
Sou moça e sou formosa;
Dos mares sou princesa;
Em graças e beleza
Jamais achei igual.
E vivo aqui sozinha,
Ai céus! para meu mal.
E vivo aqui sozinha
No seio de esplendores;
Ninguém quer meus amores
Ninguém me vem buscar.
E eu sou a mais formosa
Das filhas deste mar.
E eu sou a mais formosa
E a mais alva açucena,
Que sobre a onda serena
Balança o airoso hastil.
Mas nesta solidão
Que serve ser gentil?
Mas nesta solidão
Ninguém vem consolar-me;
E sempre a lastimar-me
Aqui morrerei só.
Ai triste de mim! triste!
Ninguém de mim tem dó.
IX
Ouvindo a canção chorosa
O barqueiro estremeceu,
E entregue a seus devaneios
O leme e a vela esqueceu
E com olhar desvairado
O horizonte percorreu.
Nem no mar, nem no rochedo
Vulto humano percebeu
E esta frase piedosa
Pelos lábios lhe tremeu:
"Esta triste, que assim chora,
É infeliz, como eu."
Depois firme e resoluto
Em pé na proa se ergueu,
E para às alheias mágoas
Juntar o queixume seu
Alçando a voz sobre as vagas
Desta sorte respondeu:
X
PESCADOR
Por entre as ondas bravias,
De mil tormentas batido,
Em busca de um bem perdido
Voga, voga, ó batel meu.
Voga!...um dia saberemos
Onde a ingrata se escondeu.
Houve um dia, uma sereia...
Oh! que linda ela não era!...
Porém tão ingrata e fera,
Que de amor me enlouqueceu.
Dizei, nuas penedias,
Onde a ingrata se escondeu.
Ela deixou-me, - a cruel! -
Entregue a negros pesares,
Lastimando sobre os mares
O triste destino meu.
Dizei-me, ó ondas sonoras,
Se ela de mim se esqueceu
Se nas asas do tufão
Devassando o mar profundo
Na raia extrema do mundo
A meus olhos se escondeu,
Neste barco aventureiro.
Lá mesmo voarei eu.
Se entre monstros marinhos
Lá no mais fundo dos mares,
Em cristalinos algares
Se oculta o retiro seu,
Em meu amor confiado
Lá também descerei eu.
Se entre rochas malditas,
Entre grossos vagalhões,
Defendidos por dragões
Seus palácios escondeu,
Mil mortes desafiando
Lá mesmo chegarei eu.
Por entre as ondas bravias
De mil tormentas batido
Em busca de um bem perdido
Voga, voga, ó batei meu.
Voga!...um dia saberemos,
Onde a ingrata se escondeu.
XI
SEREIA
Nestas praias solitárias
Que procuras, pescador?...
Vens buscar pérola finas,
E corais de alto valor?...
Se tais tesouros desejas,
Voga além, ó pescador.
Que estrela por estes mares
Te conduz, o pescador?...
Queres ser nauta valente,
Deste mares ser o senhor?...
Se tal ambição te ocupa
Passa além, ó pescador.
Os mistérios saber queres
Desta ilha, ó pescador?...
E deste asilo os segredos
Aos olhos do mundo expor?
Se é esse o desejo teu,
Vai-te embora, ó pescador.
Mas se perigos insanos
Afrontando sem pavor,
Nesta ilha solitária
Tu vens procurar amor
A meus braços sem detença,
Corre, voa, ó pescador.
XII
Na base da penedia
O vulto branco surdiu
De uma donzela formosa
Como igual nunca se viu.
Para lá o pescador
O barco seu impeliu.
Saltando na branca areia
Aos pés da bela caiu;
Mas ela com brando riso
Meigas frases proferiu,
Beijou-lhe a fronte incendida
E os alvos braços lhe abriu
O batel abandonado
No pego se submergiu,
E o ditoso par amante
Entre rochas se sumiu,
E por aquelas paragens
Nunca mais ninguém os viu.
Às vezes por horas mortas,
Pelas noites de luar
Ao largo vê-se um barquinho
Solitário a velejar.
Quem vai dentro não se sabe
Nem se vê ninguém remar.
Apenas ouve-se um canto,
Tão triste, que faz chorar;
E os pescadores, que o ouvem,
Começam logo a rezar,
Dizendo consigo: é ela,
É ela, a filha do mar!
Bernardo Guimarães
terça-feira, 2 de agosto de 2011
segunda-feira, 1 de agosto de 2011
http://twitter.com/#!/taizze
"Ler Kafka é um exercício angustiante, que exige do leitor a perseverança de segui-lo em suas narrativas cheias de aporias que parecem ter abandonado a esperança há bastante tempo, enquanto usa dessa desesperança para arrastar o leitor para enxergar a existência de um prisma bastante estarrecedor.
O autor tcheco teve uma vida atribulada pela relação complicada com o pai, pela acabrunhante e monótona vida de trabalhador com rotina, exigências e repetições esvaziadas de sentido; e, relacionamentos cheios de idas e vindas (com direito a dois noivados fracassados [com a mesma mulher!]). Quando se olha a partir da vivência de Kafka e sua experiência em relação à humanidade, suas narrativas e seu pessimismo fatalista não chocam mais tanto, mas um novo tipo de choque sobre nós se abate: que as condições que tornaram Kafka o que ele foi não são lá tão diferentes das que nós vivemos hoje em dia.
Há de se convir que muita coisa aconteceu no mundo desde as primeiras décadas do século XX, não há como negá-lo; entretanto, por outro lado, havemos de convir que há muito de kafkiano em nossa realidade, basta sabermos enxergar seus contornos e detalhes sombrios para entender porque o autor é tido, ao lado de Joyce e Proust, como um dos mais importantes escritores do século XX.
Um Artista da Fome, coletânea que reúne os contos Primeira dor; Uma mulher pequena; Josefina, a cantora (ou O povo dos camundongos) além daquele que lhe dá título é um ótimo exemplo desse mal-estar e intranqüilidade mórbida que o autor nos causa. São pérolas (essa talvez não seja a comparação mais adequada para a obra kafkiana, mas relevem-na) que exprimem o sentimento do autor perante o seu tempo, as contradições experimentadas todos os dias em sua conturbada vida.
Um artista da fome narra o declínio dos jejuadores, como sua arte deixou de ser admirada e celebrada conforme o tempo foi passando. Os jejuadores, que chegavam a passar 40 dias sem comer, eram admirados pelas pessoas que se colocavam ao seu redor para procurar entender o que os movia. Kafka, porém, vai além, e investiga os motivos existenciais que levava esses artistas da fome a quase morrerem de inanição. A renúncia deles não era somente física, mas espiritual: não achando algo que os apetecesse nesse mundo, decidiam privar-se de alimento, vivendo em um quase-transe por longos períodos.
Josefina, a cantora ou O povo dos camundongos apresenta aspectos ligeiramente diferentes de grande parte da obra de Kafka, parece haver pequenas réstias de luz se infiltrando sorrateiramente pela narrativa lúgubre, mesmo que por curto espaço de tempo. Ao se referir às tentativas de assobio e canto de Josefina com certa simpatia e usando como foco narrativo a primeira pessoa do plural, o autor causa um certo impacto, pois conceber-se como parte de algo, com uma visão não tão permeada de aporias como é comum de suas obras, coloca novas (e interessantes) percepções em vista.
Mas penso que A Construção seja, nessa edição, o texto mais emblemático. Modesto Carone chama esse conto de “testamento literário” de Kafka. A Construção é realmente contundente, dá para imaginar Kafka escrevendo aquilo e sentindo-se tão sufocado quanto o narrador (que parece uma toupeira ou algo semelhante, visto que não temos confirmação de tal).
Conhecemos uma criatura que vive sob a terra em túneis e esconderijos escavados. Porém, mais do que habitar, a confusão de túneis deve proteger seu morador, o qual não consegue relaxar um minuto sequer, visto que se preocupa todo o tempo com invasores, desmoronamentos, ataques súbitos etc. Isso faz com que a criatura esteja sempre escavando, planejando, desenvolvendo estratégias, alargando ou estreitando túneis, criando artimanhas para sua paranoia.
A intranquilidade e a tensão constante marcam o ritmo, deixando a narrativa perturbadora, sempre vigilante. Assim Kafka construía suas histórias, e quem sabe a construção (constantemente ameaçada) seja uma grande metáfora para sua obra, quiçá sua própria vida. A narrativa rascante, lacônica e fria do autor não quer definir prontamente, quer justamente deixar o leitor como a criatura da construção: em constante desconforto claustrofóbico, tentando dar inteligibilidade ao texto a seu modo, deslindando possibilidades ocultas."
Um Artista da Fome/A Construção
Tradução de Modesto Carone
120 páginas
via
http://meiapalavra.mtv.uol.com.br/
http://www.amalgama.blog.br/
http://rizzenhas.com/lista-de-livros/
"Ler Kafka é um exercício angustiante, que exige do leitor a perseverança de segui-lo em suas narrativas cheias de aporias que parecem ter abandonado a esperança há bastante tempo, enquanto usa dessa desesperança para arrastar o leitor para enxergar a existência de um prisma bastante estarrecedor.
O autor tcheco teve uma vida atribulada pela relação complicada com o pai, pela acabrunhante e monótona vida de trabalhador com rotina, exigências e repetições esvaziadas de sentido; e, relacionamentos cheios de idas e vindas (com direito a dois noivados fracassados [com a mesma mulher!]). Quando se olha a partir da vivência de Kafka e sua experiência em relação à humanidade, suas narrativas e seu pessimismo fatalista não chocam mais tanto, mas um novo tipo de choque sobre nós se abate: que as condições que tornaram Kafka o que ele foi não são lá tão diferentes das que nós vivemos hoje em dia.
Há de se convir que muita coisa aconteceu no mundo desde as primeiras décadas do século XX, não há como negá-lo; entretanto, por outro lado, havemos de convir que há muito de kafkiano em nossa realidade, basta sabermos enxergar seus contornos e detalhes sombrios para entender porque o autor é tido, ao lado de Joyce e Proust, como um dos mais importantes escritores do século XX.
Um Artista da Fome, coletânea que reúne os contos Primeira dor; Uma mulher pequena; Josefina, a cantora (ou O povo dos camundongos) além daquele que lhe dá título é um ótimo exemplo desse mal-estar e intranqüilidade mórbida que o autor nos causa. São pérolas (essa talvez não seja a comparação mais adequada para a obra kafkiana, mas relevem-na) que exprimem o sentimento do autor perante o seu tempo, as contradições experimentadas todos os dias em sua conturbada vida.
Um artista da fome narra o declínio dos jejuadores, como sua arte deixou de ser admirada e celebrada conforme o tempo foi passando. Os jejuadores, que chegavam a passar 40 dias sem comer, eram admirados pelas pessoas que se colocavam ao seu redor para procurar entender o que os movia. Kafka, porém, vai além, e investiga os motivos existenciais que levava esses artistas da fome a quase morrerem de inanição. A renúncia deles não era somente física, mas espiritual: não achando algo que os apetecesse nesse mundo, decidiam privar-se de alimento, vivendo em um quase-transe por longos períodos.
Josefina, a cantora ou O povo dos camundongos apresenta aspectos ligeiramente diferentes de grande parte da obra de Kafka, parece haver pequenas réstias de luz se infiltrando sorrateiramente pela narrativa lúgubre, mesmo que por curto espaço de tempo. Ao se referir às tentativas de assobio e canto de Josefina com certa simpatia e usando como foco narrativo a primeira pessoa do plural, o autor causa um certo impacto, pois conceber-se como parte de algo, com uma visão não tão permeada de aporias como é comum de suas obras, coloca novas (e interessantes) percepções em vista.
Mas penso que A Construção seja, nessa edição, o texto mais emblemático. Modesto Carone chama esse conto de “testamento literário” de Kafka. A Construção é realmente contundente, dá para imaginar Kafka escrevendo aquilo e sentindo-se tão sufocado quanto o narrador (que parece uma toupeira ou algo semelhante, visto que não temos confirmação de tal).
Conhecemos uma criatura que vive sob a terra em túneis e esconderijos escavados. Porém, mais do que habitar, a confusão de túneis deve proteger seu morador, o qual não consegue relaxar um minuto sequer, visto que se preocupa todo o tempo com invasores, desmoronamentos, ataques súbitos etc. Isso faz com que a criatura esteja sempre escavando, planejando, desenvolvendo estratégias, alargando ou estreitando túneis, criando artimanhas para sua paranoia.
A intranquilidade e a tensão constante marcam o ritmo, deixando a narrativa perturbadora, sempre vigilante. Assim Kafka construía suas histórias, e quem sabe a construção (constantemente ameaçada) seja uma grande metáfora para sua obra, quiçá sua própria vida. A narrativa rascante, lacônica e fria do autor não quer definir prontamente, quer justamente deixar o leitor como a criatura da construção: em constante desconforto claustrofóbico, tentando dar inteligibilidade ao texto a seu modo, deslindando possibilidades ocultas."
Um Artista da Fome/A Construção
Tradução de Modesto Carone
120 páginas
via
http://meiapalavra.mtv.uol.com.br/
http://www.amalgama.blog.br/
http://rizzenhas.com/lista-de-livros/
Kafka, Franz - O Castelo
Kafka, Franz - O Castelo
"Este romance forneceria uma das chaves para a compreensão da crise actual da humanidade. Em nenhum outro lugar conseguiríamos encontrar uma descrição que evocasse melhor o absurdo e a alienação. o dilaceramento interior e a solidão, o desamparo e a desorientação do nosso modo de vida."
in "O Esssencial é Invisível" , Eugen Drewermann, (pág 11)
http://pt.scribd.com/doc/49284425/Kafka-Franz-O-Castelo
"Este romance forneceria uma das chaves para a compreensão da crise actual da humanidade. Em nenhum outro lugar conseguiríamos encontrar uma descrição que evocasse melhor o absurdo e a alienação. o dilaceramento interior e a solidão, o desamparo e a desorientação do nosso modo de vida."
in "O Esssencial é Invisível" , Eugen Drewermann, (pág 11)
http://pt.scribd.com/doc/49284425/Kafka-Franz-O-Castelo
O Desespero Humano
Kierkegaard - Diario de Um Sedutor, Temor e Tremor, O Desespero Humano
http://pt.scribd.com/doc/7607080/Kierkegaard-Diario-de-Um-Sedutor-Temor-e-Tremor-O-Desespero-Humano
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