quarta-feira, 7 de dezembro de 2011
A Árvore de Sophia Mello Breyner Andresen (homenagem)
"Há jardins imprevistos, mais subtis e complexos que o imaginável, onde crescem altas magnólias, com gandes flores brancas de pétalas profundas e largas, macias e espessas onde a água de prata que irrompe da boca dos golfinhos de pedra cai nos pequenos tanques oitavados. Jardins de buxo, camélias e violetas perfumados de contemplação e paixão, de esquecimento e silêncio. Jardins docemente abandonados a uma solidão dançada pelas brisas, enquanto um longo sussurro de adeus acena de folha em folha nos ramos mais altos das árvores. Jardins onde reconhecemos que a vida é um sonho do qual jamais acordamos, um sonho onde irrompem aparições prodigiosas como o lírio, a águia e o inesquecível rosto amado com paixão, mas onde tudo se transforma em esquecimento, distância, impossibilidade e detrito. Jardins onde reconhecemos que a nossa condição é não saber. É não poder jamais encontrar a unidade. E encontrar a unidade seria acordar."
Sophia de Mello Breyner Andresen, "Històrias da terra e do Mar"
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